A liberdade de não se preparar (tanto) para uma partida solo

 Salve, RPGistas! Tudo bom com vocês?

Hoje vou dar um relato sobre a "quase" preparação da minha primeira sessão da campanha de Old Dragon Solo, onde pretendo jogar todos os módulos de aventuras clássicas do OD antes da Buró lançar a segunda edição deste que considero um dos mais importantes jogos OSR do Brasil.


Old Dragon possui uma imensa quantidade de produtos, suplementos e aventuras. E é tudo nacional!

Embora esta seja uma empreitada pretensiosa, eu optei por não me preparar tanto antes de me lançar nestas aventuras, me atendo apenas ao mínimo: criar os personagens e conhecer os principais pontos do sistema. Mas como assim? Não seria este o primeiro passo do preparo de uma campanha de RPG? Em grupo, pode até ser. Mas quando falamos de RPG solo, principalmente para quem faz parte da comunidade do Facebook Solo RPG, sabemos que estamos diante de um grande dilema e uma dúvida muito frequente tanto entre novatos quanto veteranos da modalidade: quais oráculos usar, simuladores de mestre, tabelas geradoras de encontros, de NPCs, de diálogos e mais uma outra infinidade de recursos que dão cor e imersão ao jogo. Muitas vezes me encontrei travado diante dessas escolhas que acabava nunca começando uma partida de jogo, desanimando e ficando com medo de "jogar errado" caso não escolhesse o arquivo apropriado para o sistema ou cenário que queria jogar. Pois é.

O que acabei decidindo então foi chutar o balde e pegar apenas meu kit de dados, os módulos de aventuras de OD (que em sua maioria já contam com geradores de NPCs e encontros aleatórios) e definir apenas no momento que uma dúvida pairava qual oráculo utilizar. Na primeira sessão, eu variava entre dois: o clássico sim, não e suas variações (sim mas, não mas, talvez, etc) e um de probabilidades utilizando d100. Isso me deu muita liberdade para curtir o cenário, dando aquela sensação de mundo aberto de infinitas possibilidades. Fiquei bem à vontade para explorar não apenas o cenário, mas os personagens também. Uma coisa legal foi que, com o auxílio destes oráculos simples, passei a determinar durante o jogo a personalidade dos meus personagens quando alguma situação surgia.

Quando eu julgava que algo era essencial e crítico para a campanha, algo que poderia mudar os rumos da aventura, eu utilizava o oráculo de probabilidades com o d100 e inventava na hora um valor de porcentagem. Por exemplo: (contém spoilers de O FORTE DAS TERRAS MARGINAIS) um cultista espião das cavernas da escuridão convenceu o grupo a levá-lo com seus asseclas como reforço para explorar a região. É claro que os personagens foram enganados, e nesse caso nem exigi teste pois não havia nada que pudesse levantar desconfiança dos mesmos. Logo, quando o grupo teve seu primeiro encontro aleatório na estrada, eu rolava o d100 e defini na hora: esse espião tem uma chance de 50% de atacar o grupo agora, -20% por ainda estarem muito próximos do Forte, mesmo que não hajam testemunhas ao redor. Então, havia agora 30% de chance do grupo ser traído em um momento crítico. Rolei os dados e o resultado foi maior que 30%, então ao invés de atrapalhar, o espião resolveu ajudá-los, esperando um momento mais oportuno para atacar.

Situações banais, como encontrar equipamentos em certos locais (a halfling do grupo decidiu, após o primeiro combate, que queria comprar uma besta ou arco curto. Eu mesmo decidi isso sem rolagens. No livro do Forte, não havia descrição de que o ferreiro local vendia arcos, então rolei 1d6 com apenas duas chances de que ele vendesse. Rolei o dado e azar para a halfling.), humor dos NPCs (1-2: ranzinza, rabugento, não ajuda e dá informações erradas; 3-4: neutro, não ajuda e não oferece informações ao grupo, mas sem ser rude; 5-6: ajuda o grupo e pode dar informações valiosas), entre outras situações menores. Exemplo: o grupo visita um bazar cujo dono é um halfling, em busca de suprimentos e informações sobre o Forte. A halfling do grupo, acreditando que poderia ser melhor tratada por alguém de mesma origem, decide tomar a dianteira na conversação, recebendo um bônus no d6 e aumentando possibilidade de bons resultados. Mais uma vez, azar: além de grosseiro, o halfling deu ao grupo uma informação falsa no Forte (há uma tabela de rumores no Forte, alguns falsos e outros verdadeiros). Tal informação pode ou nao atrapalhar o grupo futuramente, por isso fiz rolagens com o d6 para determinar tais situações.

E foi isso! Apenas com esses recursos decidi me lançar nesta campanha, de maneira a não me enrolar demais com regras, pois além de regras para jogar solo, teria que administrar 4 personagens e seus possíveis aliados, monstros, NPCs, dungeons e todo o universo que me cerca. Essa liberdade para determinar aquilo que mais se apropria ao momento foi determinante para não tornar esta tarefa enfadonha e acabar não levando isto como um trabalho, e sim uma ferramenta de lazer que posso usar para relaxar nas horas vagas.

É claro que, para chegar nesse formato "minimalista", foram anos de leitura, erros e aprendizados no universo do RPG Solo, então recomendo sempre lerem e absorverem aquilo que vocês mais curtem dentro da comunidade, sem se ligar muito às amarras que por ventura podem aparecer (ler apenas material estrangeiro, ou "oficial" de editoras, etc. Nada contra se você curte, claro, mas acho que perderá MUITA coisa bacana feita da comunidade para a comunidade.)

A próxima postagem será o relato desta primeira sessão no formato conto/crônica com alguns comentários sobre em que momento utilizei oráculos e outros recursos! Até mais, pessoal.

Comentários

  1. Olha como é bem simples não se preocupar com muito e jogar de forma maneira :D

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  2. Adorei o relato e ajuda a "descomplicar" quem tem algum entrave ainda pra começar a jogar solo!

    Só gostaria de fazer uma ressalva, que nesse relato em particular, pelo o que entendi, é uma aventura pronta, certo? Nesse caso você como jogador solo já tinha acesso a informações que os seus personagens não tinham (sobre o espião, sobre boatos falsos, etc). Então pode ser que tipo de jogo não seja o que algumas pessoas procuram na hora de jogar solo. Às vezes o pessoal gosta de jogar sabendo apenas o que o personagem sabe, daí nesse caso mudaria um pouco a dinâmica do jogo.

    Mas é só um comentário, não desmerece o seu relato de forma alguma :)

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    1. Realmente, Renan, essa forma de jogar não é todo mundo que curte. Mas eu comecei a jogar assim depois que vi no canal do Tarcísio Lucas, onde ele meio que diz que você, jogador solo, saber de algumas informações não faz diferença pois vc é mestre e jogador ao mesmo tempo. Meio "Fragmentado" pensar assim né? Hahaha mas isso deu liberdade maior na hora de jogar aquela aventura pronta que espera mesa em grupo há séculos e não vê. É apenas mais uma modalidade de jogo solo! Obrigado por comentar aqui e desculpa o tempo pra responder, o blog tava fora do ar, hoje que pude pagar o domínio... kkkkk

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